Cultura

A magia do Natal na Lapa
5 Dezembro, 2018 / , , ,

Se perguntarmos a diferentes pessoas o que é o Natal no Porto, receberemos diferentes respostas. Dirão que é a beleza da árvore de Natal dos Aliados, a cor das iluminações da baixa, o frenesim de Sta. Catarina, o bolo rei de diferentes pastelarias tradicionais ou o bacalhau de determinada mercearia conceituada por anos de infalível serviço ao palato dos portuenses. Tudo isto é verdade, e haveria mais a acrescentar. Contudo, tudo isto faz parte de algo infinitamente mais importante, tudo isto sublinha a alegria do que é realmente o Natal, mas não o esgota nem ofusca. O Natal é o nascimento de Cristo, o anúncio da redenção, a celebração da suprema confiança de Deus no Seu Povo.

Viver, ou estar no Porto, nesta data torna obrigatório testemunhar o modo como a cidade vive este momento central da sua espiritualidade. Atrevo-me a dizer que, pelo menos uma vez na vida, para não roubar público às outras paróquias, é obrigatório participar na extraordinária Missa do Galo na Lapa. O Natal também é magia, e a magia não é incompatível com a solenidade. A experiência da Missa do Galo na Lapa é isso mesmo, mágica e solene. Alí o espírito é desperto através dos diferentes sentidos de modo sublime. Enquanto os olhos se maravilham com a riqueza artística da Igreja e com o rigor estético da celebração, o cheiro do tradicional incenso reforça a intensidade do momento e a música de extraordinária execução e delicada escolha preenche o tempo entre as palavras que dão sentido a tudo o resto. É uma experiência única!

O cuidado muito especial posto nesta Missa, a observância estrita de uma tradição que se reforça a cada ano que passa, tem tido o condão de atrair cada vez mais gente, dando mais sentido ao Natal de cada um dos que escolhe aderir a esta celebração. Pode-se dizer que há pompa, rigor, encenação até, mas sem nunca se perder de vista o essencial. Todos dão o seu melhor para receber o Cristo chegado. Diria que é o ouro, o incenso e a mirra que o Porto tem para oferecer ao Menino.

 

Ousaria dizer que este não é um momento exclusivo dos crentes, seria um terrível egoismo. Este é tembém um momento para quem não crê, mas gosta de alimentar o seu espírito com a beleza da criatividade e com o poder sublime da arte em diferentes formas, a arquitectura, a pintura, a escultura, a música, a palavra. Crentes e não crentes, por diferentes razões, algumas delas comuns, saem dali de alma cheia e com a clara noção do privilégio da participação num momento tão especial. E o Natal acontece.

Francisco de Sá Carneiro – Frontal na Vida e na Política
7 Novembro, 2018 / , , ,

Se chegou ao Porto, aterrando no Aeroporto Francisco de Sá Carneiro, ou se, passeando pelas Antas, se cruzou com a sua estátua na praça com o mesmo nome, este artigo é para si!

Nascido e criado no Porto em 1934, Francisco de Sá Carneiro é um advogado e político português que se destacou desde cedo na oposição ao regime ditatorial então vigente, de que é expoente máximo a luta pelo regresso ao país do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes (cuja estátua poderá admirar-se junto à Igreja dos Clérigos), exilado pelo Estado Novo de Salazar.

Em 1969, como independente, é eleito para a Assembleia Nacional e cedo se torna o rosto da chamada Ala Liberal, sendo responsável por várias iniciativas que visavam a transição pacífica e progressiva de Portugal para um regime democrático e livre.

Perante o fracasso da implementação da sua visão democrata, personalista e humanista, resigna ao cargo de deputado e regressa ao Porto, onde ajuda a germinar a ideia de criar um partido social democrata, o qual veria a luz do dia após a revolução do 25 de abril de 1974, que pôs fim ao regime ditatorial. Nasce, assim, em 6 de maio de 1974, o Partido Popular Democrático (PPD), mais tarde Partido Social Democrata (PSD), de que é co-fundador e principal impulsionador Francisco Sá Carneiro.

Como Presidente do PPD, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte (1975) que haveria de preparar e aprovar a primeira Constituição da República do regime democrático.

Em finais de 1979, cria a Aliança Democrática, a qual veio a vencer as eleições legislativas seguintes. Na liderança da maior coligação governamental desde o 25 de abril de 1974, Sá Carneiro é nomeado Primeiro-Ministro em janeiro de 1980, cargo que exerce até ao seu inesperado e trágico desaparecimento em 4 de dezembro de 1980, quando o avião em que se deslocava para o Porto se despenhou em Camarate, em circunstâncias que até hoje não foi possível apurar.

O seu lado público não o impediu de viver a sua própria vida e arriscar a crítica, num país tradicionalista e onde o divórcio não era, sequer, permitido, quando se separou para se juntar à fundadora da editora D. Quixote, Snu Abecassis, que viria também a perder a vida no acidente de Camarate. Lapidar e frontal, como sempre na vida, cedo esclareceu: “Se a situação for considerada incompatível com as minhas funções, escolherei a mulher que amo”.

Um verdadeiro homem-bom da sua cidade e do seu país, com uma nobreza e retidão de carácter ímpares,  a morte de Francisco de Sá Carneiro constituiu uma perda irreparável para a vida pública portuguesa e a sua memória é, ainda hoje, inspiradora para todos quantos reconhecem, no seu exemplo, a forma maior de ser e estar na politica, para todos quantos sabem como ele que “acima da Social-Democracia, a Democracia, e acima da Democracia, o Povo Português”.

Gomes Teixeira – O matemático que podia ter sido padre
15 Outubro, 2018 / , , ,

Gomes Teixeira, ilustre matemático que viria a ser o primeiro reitor da Universidade do Porto, só não estudou Teologia por mero acaso.

Nascido em janeiro de 1851 em Armamar, cedo se destacou pela sua inteligência e pelas boas notas obtidas em todas as disciplinas. Naquela altura, era comum que os rapazes com bom aproveitamento escolar fossem encaminhados para o Seminário, mas o jovem era brilhante a Matemática. Assim, quando chegou a altura de ir para a Universidade, a família resolveu que seria a sorte a decidir entre Teologia e Matemática.

A sorte ditou Matemática e desde que chegou à Universidade de Coimbra, Francisco Gomes Teixeira destacou-se pelas notas máximas obtidas. Aos 20 anos publicou o seu primeiro trabalho e em 1874 terminou o curso com a nota de 20 valores. Um percurso académico tão brilhante teria, obviamente, de o conduzir à carreira de professor. Destacou-se na Universidade de Coimbra e na Academia Politécnica do Porto, que viria a dirigir. Em 1911 foi fundada a Universidade do Porto e Gomes Teixeira foi escolhido para ser o seu primeiro reitor. Morreu no Porto em 1933. Após a sua morte foram feitos três bustos em bronze, posteriormente colocados na sua terra natal, na Universidade do Porto e na Universidade de Coimbra.

Fonte: O Tripeiro 7ª Série Ano XIX nº1 e 7ª Série Ano XXX, Número 12

Praça Gomes Teixeira (Praça dos Leões)
12 Outubro, 2018 / , ,

Ponto central da vida estudantil do Porto, esta praça tem o nome de um ilustre matemático, mas são os leões da sua imponente fonte que a tornaram conhecida.

A designação oficial desta praça na Baixa do Porto é uma homenagem a Gomes Teixeira, matemático que foi o primeiro reitor da Universidade do Porto. No entanto, é mais conhecida por Praça dos Leões, devido à fonte em granito e bronze que existe na zona central.

Na verdade, este local é muito anterior à fonte e até à própria universidade. Segundo a lenda, no século XII, o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques e a sua mulher, D. Mafalda, iam a caminho de Guimarães quando a rainha caiu num precipício. Naquele momento de aflição, cada elemento do casal invocou um santo. Gratos por se terem livrado do perigo, terão mandado construir, naquele local, capelas a Nossa Senhora da Graça e São Miguel-o-Anjo (já demolidas).

Já no século XVII surgiram o Convento dos Carmelitas (onde atualmente está o  quartel da GNR) e colégios onde era m acolhidos órfãos, o que levou a que este local fosse também conhecido como Largo do Carmo ou Campo dos Meninos Órfãos. Mais tarde, e porque por ali se vendia farinha e pão, foi também conhecido como Praça do Pão ou Praça da Feira do Pão. Já no século XIX, tornou-se Praça dos Voluntários da Rainha, homenageando assim o batalhão liberal do exército português que tinha ocupado o Convento dos Carmelitas.

Quando foi criada a Universidade do Porto, passou a chamar-se Praça da Universidade e, mais tarde, Praça Gomes Teixeira.

O atual edifício da Reitoria da Universidade do Porto foi construído ao longo do século XIX e ali funcionaram também a Faculdade de Ciências e a de Engenharia. A praça ganhou então uma nova vida; a presença dos estudantes foi decisiva para que surgissem cafés, como o mítico Café Âncora d’Ouro  (mais conhecido como O Piolho), livrarias e outros serviços ligados à vida académica. As lojas e armazéns nas proximidades criaram também, junto dos portuenses e de quem visitava a cidade, o hábito de fazer compras nesta zona.

Hoje em dia é um dos locais centrais da animação noturna e continua a ser ponto de encontro nos principais momentos da vida académica da cidade, como a Queima das Fitas ou a Receção aos novos alunos da Universidade do Porto.

As igrejas do Carmo e dos Carmelitas, separadas pela casa mais estreita da cidade, são outro ponto de interesse no local.

A fonte

Imponente, esta emblemática fonte foi mandada construir pela Companhia das Águas do Porto em 1882, com o objetivo de fornecer água aquela zona da cidade. Construída em França pela Compagnie Générale des Eaux pour l’Etranger, tem 8 metros de diâmetro e 6 metros de altura, sendo composta por um tanque de granito e por uma fonte central de bronze com quatro leões alados e sentados nas extremidades. Duas taças na parte superior completam a decoração desta fonte que, em tempos, já foi protegida por uma vedação de ferro.

Universidade do Porto
11 Outubro, 2018 / ,

Fundada a 22 de março de 1911, a Universidade do Porto é cada vez mais procurada pelos estudantes portugueses e estrangeiros. Com 14 faculdades e três polos (no centro, Asprela e Campo Alegre), conta com cerca de 30 mil estudantes de todo o mundo.

As origens da Universidade do Porto estão na Aula de Náutica, criada pelo rei D. José I em 1762 e destinada a preparar marinheiros e pilotos para embarcarem nos navios que partiam da Barra do Douro para todo o mundo. Seguiram-se a Aula de Debuxo e Desenho, criada em 1779; Academia Real da Marinha e Comércio, em 1803; Academia Politécnica, em 1837. Todas estas escolas destinavam-se a preparar quadros qualificados para trabalhar na área naval, no comércio, na indústria e nas artes.

Em 1825 surgiu a primeira escola médica do Porto, a Real Escola de Cirurgia, que 11 anos depois daria lugar à Escola Médico-Cirúrgica. A Aula de Debuxo e Desenho esteve também na origem de outras escolas ligadas às artes.

Em março de 1911, poucos meses depois da Implantação da República (em Outubro de 1910), é constituída esta universidade que, desde então não tem parado de crescer em termos de oferta de cursos, número de alunos e prestígio internacional. Inicialmente divida em duas faculdades (Ciências e Medicina), viria a receber em 1915 a Faculdade Técnica (rebatizada em 1926 de Faculdade de Engenharia), em 1919 a Faculdade de Letras e, em 1921, a Faculdade de Farmácia. A Faculdade de Economia seria criada em 1953.

Com a revolução do 25 de abril, em 1974, a Universidade do Porto teria um grande crescimento, recebendo mais faculdades: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (1975), Faculdade de Desporto (1975), Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (1977), Faculdade de Arquitetura (1979), Faculdade de Medicina Dentária (1989), Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação (1992), Faculdade de Belas Artes (1992) e Faculdade de Direito (1994). A Escola de Gestão do Porto foi criada em 1988 e desde 2008 passou a ser designada por Escola de Negócios da Universidade do Porto.

A reitoria
É a sede da Universidade do Porto. Situado no centro da cidade, na Praça Gomes Teixeira, este imponente edifício acolhe também o  Museu de História Natural e o Museu de Ciência. Entre 1803 e 1837 recebeu a Academia Real de Marinha e Comércio  e a Academia Politécnica do Porto entre 1837 e 1911). Instalado no espaço que albergava um colégio para órfãos, este edifício teve uma construção demorada, sendo várias vezes readaptado para novas funções. No dia 20 de abril de 1974 um incêndio destruiu uma parte do edifício, que foi novamente alvo de obras e renovações. Entre 1976 e 1996 a reitoria funcionou num edifício perto do Palácio de Cristal.

Igreja São Pedro de Miragaia
9 Outubro, 2018 / , ,

Bem perto do Douro, e em plena zona histórica, esta igreja com um interior ricamente decorado constitui um sinal de devoção dos pescadores a São Pedro.

A atual igreja, reconstruida no século XVIII, surgiu no lugar onde anteriormente existia outro templo de origem medieval. Miragaia, junto ao Rio Douro, foi uma das primeiras zonas habitadas na cidade. Nascida no coração de uma comunidade piscatória bastante devota, esta igreja foi consagrada a São Pedro, santo padroeiro dos pescadores.

O anterior templo deu lugar, em 1740, a um templo com uma estrutura simples, com uma nave única. No entanto, a riqueza da decoração interior compensa este despojamento. A capela-mor é totalmente revestida de talha dourada. Um trabalho que se prolongou por vários anos e que fez com que esta decoração reflita a evolução da estética de diferentes períodos.   O teto e o tríptico na Capela do Espírito Santo, atribuído ao pintor flamengo Van Orley, merecem igualmente um olhar atento.   No exterior, destacam-se os azulejos simples  – colocados no século XIX- na fachada e na torre sineira e os ornamentos barrocos nas pilastras laterais.

Largo de S. Pedro de Miragaia, Porto

Horário: Ter-Sab 15:30-19:00 Dom 10:00-11:30 Encerrado: segunda-feira

Os grilos e a sua igreja ( O TRIPEIRO)
19 Setembro, 2018 / , , ,

Diz a lenda que, no local onde foi construída a , ouvia-se o constante cantar dos grilos. Por isso, a igreja é, ainda hoje, conhecida como a Igreja dos Grilos.

A lenda, que há muito é conhecida na cidade, conta que o templo jesuíta foi edificado no local onde existiam as hortas do Bispo do Porto, que doou estes terrenos à Companhia de Jesus. Um local que, devido à enorme abundância destes insetos cantores, era conhecido como o Campo dos Grilos. Assim, os portuenses nunca adotaram a designação oficial de Igreja de São Lourenço e desde que foi construído, no século XVI, este templo foi sempre conhecido como … Igreja dos Grilos.

Outra explicação, mais fundamentada com factos históricos, está relacionada com a expulsão dos Jesuítas do país, em 1759. A igreja e o colégio passaram a pertencer à Universidade de Coimbra, que acabaria por vender os edifícios à congregação dos Agostinhos Descalços, também conhecidos como “Padres grilos”, uma vez que a sua sede ficava na Calçada do Grilo.

A história do nome pode não ser consensual, mas a imponência da fachada e a riqueza do seu interior justificam uma visita.

Fonte: O Tripeiro 7ª Série Ano XXXIV número 5  – Maio 2015

O Cerco do Porto
14 Setembro, 2018 / , ,

Foram 13 meses que marcaram para sempre a cidade. O Cerco do Porto durou entre julho de julho de 1832 a agosto do ano seguinte, mas a sua memória permanece na toponímia e na alma da cidade.

A cidade ficaria para sempre marcada pelos meses em que esteve cercada: para além dos danos materiais e das perdas de vidas humanas, este período da História deu ao Porto o título de “antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto”, atribuído por D. Pedro como forma de agradecimento pela lealdade e valentia com que os portuenses defenderam a causa liberal. O rei viria mesmo a oferecer o seu coração à cidade como forma de agradecimento.

Nomes como “Bairro do Cerco do Porto”, “Rua do Heroísmo” (em memória a uma sangrenta batalha que aí decorreu) ou “Rua da Firmeza”, que perpetua “o denodo e resignação com que os portuenses valorosamente resistiram” ao cerco, evocam essa época e uma guerra entre dois irmãos com convicções opostas.

O Porto nunca aceitou a subida do absolutista D. Miguel ao poder (1828) e quando D. Pedro assume o comando do movimento Liberal, encontra nas gentes da cidade um poderoso aliado. A 8 de Julho de 1832, D. Pedro, vindo dos Açores, desembarca em Pampelido (Mindelo) para tomar a cidade do Porto, chegando à atual Praça da Liberdade ao meio-dia. As tropas de D. Miguel tinham sido deslocadas para Lisboa, pelo que os liberais não tiveram dificuldade em entrar na cidade. No dia seguinte, o exército absolutista, vindo de sul, instala-se na Serra do Pilar, no outro lado do rio, para bombardear a cidade e expulsar os liberais. Começa assim o cerco: os apoiantes de D. Pedro permanecem no Porto, cercados. Os alimentos e bens essenciais começam a escassear e, com o agravar da situação, a cólera e o tifo tornam-se também adversários de quem luta pela causa liberal.

Em junho de 1833, os liberais alteram a estratégia e resolvem atacar a partir do Algarve. As tropas miguelistas, convencidas de que o adversário estava enfraquecido, resolvem lançar um grande ataque ao Porto, mas são derrotadas. A 26 de julho Lisboa estava lá ocupada pelos Liberais, mas o Porto permanecia cercado. A 18 de agosto, sob o comando do Marechal Saldanha, o exército liberal consegue uma vitória decisiva que levará a que, dois dias depois, os apoiantes de D. Miguel batam em retirada. Estava terminado o Cerco do Porto.

A estação de metro que é um museu
14 Setembro, 2018 / ,

A estação de metro do Campo 24 de Agosto guarda um verdadeiro tesouro: as ruínas de um reservatório de água que ali existia.

Além de ter sido projetada pelo conceituado arquiteto português Souto Moura, esta estação no centro da cidade tem outro motivo de interesse, albergando os vestígios arqueológicos de um reservatório que abastecia a fonte que existia neste local. No século XIX, a ribeira que ali corria foi soterrada, bem como a ponte que a atravessava. Com o passar do tempo e a urbanização da zona envolvente – que anteriormente era sobretudo rural -, a memória desse passado ficou esquecida, até que o progresso recuperou essa memória.

Aquando da construção da estação de metropolitano, no início deste século, foi descoberto o que restava do antigo reservatório, bem como alguns objetos, incluindo solas de sapato, cerâmica portuguesa, vidro italiano ou porcelana chinesa. Para preservar essas memórias, as ruínas foram desmontadas e depois reconstruidas no local onde hoje podem ser visitadas, acompanhadas de explicações que contextualizam a importância destes vestígios.

Agustina Bessa-Luís
14 Setembro, 2018 / ,

“Vivo aqui, mas o Porto não é para mim um lugar; é um sentimento”

Agustina Bessa-Luís é uma das mulheres mais emblemáticas da cultura portuguesa. Com dezenas de obras publicadas e dona de uma personalidade única, tem uma enorme paixão pelo Porto.

Nasceu em Vila-Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922, mas durante a infância e adolescência viveu em várias cidades, mantendo, contudo, uma forte ligação à região do Douro, notória em muitas das suas obras. A biblioteca do avô materno permitiu-lhe o primeiro contacto com a literatura francesa e inglesa, que a influenciaria.

Na adolescência chegou a escrever romances sob pseudónimo, mas foi em 1948 que publicou o primeiro livro, Mundo Fechado. Três anos antes casara com Alberto Luís; conheceu o marido através de um anúncio que publicou num jornal em que procurava uma pessoa culta com quem trocar correspondência, o que revela bem o seu temperamento independente e determinado. Em 1953, com o premiado romance, A Sibila, Agustina Bessa-Luís ganhou um enorme reconhecimento.

Desde então, e até aos primeiros anos do século XXI, publicou dezenas de obras, algumas delas adaptadas ao cinema por Manoel de Oliveira. Apesar de muitas vezes não ter ficado satisfeita com estas adaptações, esta colaboração foi longa e profícua. Agustina escreveu mesmo o texto que acompanha o filme Visita ou Memórias e Confissões, feito para ser exibido após a morte do realizador. A Corte do Norte também foi adaptada ao cinema por João Botelho e várias obras foram adaptadas ao palco. Além de romances, escreveu também peças de teatro, biografias, ensaios e livros infantis. Entre 1986 e 1987 foi diretora do jornal  O Primeiro de Janeiro e entre 1990 e 1993 esteve na direção do Teatro Nacional de D. Maria II.

É membro da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris) e da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. Entre as distinções recebidas contam-se a Ordem de Sant’Iago da Espada (1980), a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) e o grau de Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres, do Governo francês (1989). Tem obras traduzidas para alemão, castelhano, dinamarquês, francês, grego, italiano e romeno.

Destemida, inteligente, sarcástica e sem medo de desafiar convenções e poderes, Agustina-Bessa Luís nunca temeu dizer o que pensava nem se deixou intimidar pelo facto de ser mulher ou de não pertencer aos círculos do poder. Por razões de saúde, está afastada da vida pública e literária há vários anos.