Cultura

Igreja de S. João Novo
22 Maio, 2019 / , ,

Construída na escarpa que desce até ao Douro, num local designado de “Boa Vista”, encontra-se um dos edifícios religiosos mais significativos do centro histórico do Porto. A Igreja de S. João Novo foi construída em meados do século XVI e apresenta grandes semelhanças artísticas e arquitectónicas com a Igreja de S. Lourenço.

O edifício, com planta de cruz latina, foi construído um pouco acima da antiga ermida de S. João Belmonte. A construção aproveitou, ainda, a muralha, na qual ancorou a construção da igreja e respetivo mosteiro. No exterior, é possível observar partes da muralha e acompanhar o seu percurso. Já no interior da igreja, encontram-se vários altares de talha, do período barroco (século XVII) e azulejos da mesma época.

No altar-mor, enriquecido com retábulo, datado do período entre 1757 e 1766, encontra-se uma tela móvel reservada ao tema da Visão de Santo Agostinho. A obra é atribuída a João Glama Stroberle, pintor de origem alemã, que nasceu em Lisboa, no ano de 1708. No mesmo altar-mor é também possível observar um mausóleo que capta a atenção de qualquer um, pela sua magnífica decoração – o autor da obra é desconhecido.

O Coro Alto da igreja é composto por um cadeiral de uma só fila e do lado do Evangelho encontra-se um órgão de tubos. Destaque ainda para os azulejos alusivos à vida de Santa Rita de Cássia, da autoria de Bartolomeu Antunes, localizados no altar lateral de Santa Rita, a imagem de Santo Ovídeo e a imagem de Nossa Senhora da Guia, da autoria de Manuel Mirada, situada no altar colateral. Também de grande interesse é o altar do Senhor dos Passos, localizado no lado direito; a imagem da invocação de Jesus Cristo é de grandes dimensões e apresenta traços, profundamente, realistas.  Desta igreja saía a procissão do Senhor dos Passos, muito provavelmente seria a imagem que se encontra neste altar lateral que saía em procissão.

Em frente à igreja encontra-se o Palácio de S. João Novo, construído em finais do século XVIII, de estilo barroco e que muitos atribuem a Nicolau Nasoni. Embora se encontre encerrado há mais de uma década, o Palácio serviu de hospital durante o Cerco do Porto, nas Guerras Liberais e, mais tarde, de Museu de Etnografia.

Para além das semelhanças com a igreja do antigo Colégio Jesuítico de S. Lourenço, a Igreja de S. João Novo revela também a influência da Igreja dos Grilos, pela composição da fachada e pelo ordenamento interior.

O edifício está apto para pessoas com limitações físicas e embora esteja encerrada aos domingos, é possível visitar a Igreja de S. João Novo de segunda a sábado, gratuitamente.

Este ano, a Igreja de S. João Novo é um dos espaços da cidade do Porto que integra a programação do In Spiritum – o festival propõe a descoberta do património histórico através da música.

Exposição Escher na Alfandega
29 Março, 2019 / , , ,

O Hey Porto falou com Frederico Guidiceandrea, um dos curadores da exposição e um grande especialista da obra de M.C. Escher

– O que pode o público esperar desta exposição no Porto?

Esta exposição cobre toda a carreira artística de MC Escher, começando pelos seus trabalhos iniciais que reflectem a influência do seu professor, Jesserun de Mesquita, um expoente máximo da arte nova nos Países Baixos. Um espaço importante é dedicado ao período italiano, às imagens nocturnas de Roma, às paisagens do sul de Itália e aos estudos da natureza.

Nas zonas seguintes são apresentados os seus trabalhos mais conhecidos: as tesselações, os edifícios impossíveis, as fitas, os sólidos regulares, as superfícies reflectivas e as metamorfoses. A exposição continua com trabalhos esporádicos que MC Escher criou por encomenda tal como bookplates, cartões comemorativos, selos postais e outros.

A exposição termina com um amplo espaço dedicado à Eschermania, onde é demonstrada a influência de MC Escher na iconografia dos séculos 20 e 21. Capas de livros, posters psicadélicos, capas de LPs, banda desenhada, revistas, clips de vídeo e trabalhos de artistas contemporâneos inspirados em MC Esher.

Ao longo da exposição uma série de jogos experimentais trazem o público ao mundo de MC Escher. É possível experienciar os paradoxos da percepção codificados pelas leis de Gestalt e entrar fisicamente em algumas obras do artista.

– Como define a arte de Escher?

A arte de Escher pode ser interpretada por camadas. À primeira vista o espanto prevalece, e depois ao observar mais profundamente poderá descobrir mais e mais detalhes: paradoxos de percepção, estruturas matemáticas, referências à paisagem italiana e aos grandes artistas do passado. Todas as vezes que monto esta exposição, apesar de já ter visto as obras centenas de vezes, descubro sempre algo novo.

– Quais são as suas principais referências?

A sua principal influência, especialmente na sua fase inicial, é certamente a arte do seu mentor Jesserun de Mesquita, que foi um importante expoente da arte nova holandesa. Mais tarde em Itália tomou contacto com os expoentes do Futurismo, em particular com um movimento chamado ‘Aeropittura’ que retratava cenas e paisagens de cima com um uso incomum de perspectiva. Nos seus últimos trabalhos a maior influência veio do contacto com o mundo da matemática, especialmente da correspondência que manteve com importantes matemáticos como Roger Penrose or Harlod Coxeter que foi base de muitos trabalhos icónicos.

– Escher é intrigante, perturbador, desconcertante, um verdadeiro génio. Concorda?

Sim, o seu trabalho captura várias tendências da sociedade tecnológica. Teorias científicas modernas tais como a teoria da relatividade ou da física quântica mudaram profundamente a modo como vemos o mundo. O mundo não é como o observamos, numa escala muito grande ou muito pequena pode ser muito contra-intuitivo e paradoxal. MC Escher, através das suas tesselações e estruturas impossíveis, abre uma janela que nos permite ver a complexidade do mundo.

Na nossa cidade do Porto
29 Março, 2019 / , , ,

Na nossa cidade do Porto, burgo da maior ancestralidade, o desvendar das suas origens e a compreensão da sua malha urbana é, naturalmente, um extenso e interminável programa. O século XX dar-nos-ia um dos mais representativo e consistente cronista e investigador da história da cidade.

A 5 de Março de 1894 nasceria Artur de Magalhães Basto no número 556 da então denominada Rua Duquesa de Bragança, numa distinta e bem delineada moradia mandada construir por seu pai António José de Magalhães Basto, cerca de 1875, ao então arquitecto e professor da Academia Portuense de Belas Artes José Geraldo da Silva Sardinha.

A sua formação em Direito na Universidade lisboeta de pouco lhe iria servir no futuro, pois desde muito jovem o seu rumo em direcção à investigação e paleografia se iria declarar, nomeadamente com a sua carreira docente integrando ele a primeira faculdade de Letras da cidade, onde leccionaria entre 1922 e 1931. Para a Câmara Municipal do Porto de que fará parte até à sua morte, a 3 de Junho de 1960, chefiará, desde 1934, os Serviços de Paleografia e Manuscritos da biblioteca; desde 1938 será Director do Gabinete de História da Cidade e assumirá o cargo de chefe dos serviços culturais, também até 1960. Foi ainda Director do Arquivo Distrital do Porto, desde 1939, bem como chefe do grande Cartório da Santa Casa da Misericórdia do Porto, desde 1933.

Mas é como cronista da cidade que mais se vai destacar Magalhães Basto: da sua escrita jorrarão os mais diversos temas de história e da arte ligados sempre à cidade de que daremos apenas alguns exemplos: os indispensáveis ”Falam Velhos Manuscritos”, 1445 artigos semanais no jornal portuense O 1º de Janeiro” entre 1930 e 1960; e os seus fundamentais artigos na revista de História da cidade “ O Tripeiro”, da qual viria a ser director entre 1945 e 1960.Algumas das suas 160 obras publicadas são transcrições de conferências, uma das suas especialidades, quanto a nós digna de referência especial, pela urgência e estilo com que fazia chegar a todos, sem discriminação, de uma forma muito simples e directa, a sua narrativa histórica e os seus estudos sobre a Nossa Cidade do Porto. Aliás estas conferências seriam como que uma forma de contrariar o silêncio, a solidão da Poeira dos arquivos, sua natural rotina, como tão bem referiria num texto de Fevereiro de 1960:”- Como deve ser maçador passar uma vida, ou mesmo que seja um ano, um dia, ou até uma única hora, encafuado sozinho num arquivo a folhear, a ler, a decifrar papelada velha, amarrotada, amarelecida pelo tempo, roída dos ratos, picada da traça e a cheirar a bafio!”.
O nosso querido e liustre investigador morreria na sua última residência, no Porto, no nº 500 da rua de Gondarém, arriscando nós rematar com uma digna nota deixada pelo professor Luís Duarte no catálogo da exposição que ao mestre seria dedicada em 2005 na Galeria do Palácio :”percebemos que na história da nossa terra, houve um antes e um depois do magistério e do trabalho de Artur de Magalhães Basto”.

O MENSAGEIRO, de IRENE VILAR
13 Fevereiro, 2019 / ,

Uma estátua plantada à beira-rio que traz esperança à cidade do Porto

Irene Vilar nasceu em Matosinhos em 1930 e é detentora de uma vasta obra plástica espalhada por muitos países como Alemanha, África do Sul, Brasil, Bélgica, Holanda e Macau. Distinguida ao longo da vida com vários prémios, a artista afirmou-se em áreas diversas como a escultura, numismática, medalhística e pintura. Foram cerca de cinco décadas de produção e afirmação artística que lhe valeram diversos prémios e distinções

A artista teve desde muito nova uma grande ligação à Foz do Douro, onde viveu a partir dos 19 anos e onde veio a montar o seu atelier.

Uma das suas obras mais emblemáticas é sem dúvida “O Mensageiro”. Escultura em bronze – um dos seus materiais de eleição – , de cariz expressionista, marca majestosamente a margem do Rio Douro  junto ao Cais de Sobreiras, em plena Foz do Douro.

Inaugurada em 2001, “O Mensageiro”, ou “O Anjo” como é vulgarmente conhecida pelas pessoas do Porto, trazia, segundo a autora “a boa esperança à cidade do Porto”. Talvez por isso se tenha transformado quase num local de culto, onde as pessoas depositam flores e velas a seus pés.

Irene Vilar morreu aos 77 anos, em 2008.

 

 

IGREJA DOS GRILOS – MUSEU DE ARTE SACRA E ARQUEOLOGIA
4 Fevereiro, 2019 / , , ,

Igreja de S. Lourenço ou Igreja dos Grilos, uma visita a não perder e com uma vista panorâmica sobre o rio Douro, a Invicta e a margem de Gaia

Um passeio a pé pelo centro da cidade com destino à Sé do Porto é um roteiro habitual dos turistas que visitam a invicta. Descobrir a baixa da cidade é uma aventura. À medida que caminhamos pelas ruas estreitas da cidade antiga vamos descobrindo os seus segredos e as suas curiosidades.

Convidamos hoje o turista a aventurar-se pelo Bairro da Sé adentro. A Sé, imponente, é o ponto de partida para a nossa aventura. Logo a poucos metros, num beco que parece não ter saída, surge a Igreja de S. Lourenço, mais conhecida por Igreja dos Grilos que, em conjunto com o Colégio homónimo, está classificada como Monumento Nacional.

Começou a ser edificada pelos jesuítas no século XVI e só foi terminada no século XVIII. Se a maioria das Igrejas ostenta uma riqueza e opulência muitas vezes exagerada, a Igreja dos Grilos surpreende pelas suas linhas simples que deixam as paredes desnudas e sem adornos.

Na Igreja destacam-se o lindíssimo altar de Nossa Senhora da Purificação, o fantástico órgão com 1500 tubos que, segundo os registos foi construído em finais do séc. XVIII e o presépio, uma construção única, datado do século XVIII e cuja autoria é atribuída a Machado de Castro. Na altura do Natal, a par da tradição de tantas outras igrejas da cidade, é possível apreciar este raríssimo presépio composto por largas dezenas de figuras e que é colocado logo à entrada do monumento.

A Igreja dos Grilos, apesar de correctamente se designar por Igreja de S. Lourenço, foi inicialmente a Igreja e o Colégio dos Jesuítas. Com a extinção e expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, no século XVIII, a Igreja é doada à Universidade de Coimbra e mais tarde comprada pelos Frades Descalços de Santo Agostinho, que por terem a sua residência principal em Lisboa, na Calçada dos Grilos, eram vulgarmente chamados por Padres Grilos. E é assim, que se começa a chamar a esta Igreja, a Igreja dos Grilos, e apesar de estes já aí não residirem.

O Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Porto – com acesso por uma porta contígua à esquerda da Igreja – expõe uma coleção de peças interessantes desde a estatuária de santos, à ourivesaria religiosa e outras peças litúrgicas. É também aqui no Museu que, da magnífica varanda, se pode ter uma vista ímpar sobre o Porto e Gaia e sobre o rio Douro. Uma vista deslumbrante que não poderá perder!

Guilhermina Suggia
10 Janeiro, 2019 / ,

Nasceu no Porto, em 1885. Guilhermina Suggia cresceu rodeada de música, muito devido ao seu pai que era violoncelista. Muito cedo começou a ter aulas de violoncelo e com apenas 7 anos fez a sua primeira aparição em público, em Matosinhos. Com 13 anos já integrava o Orfeão Portuense e rapidamente apaixonou os portuenses. Foi um passo até dar os  primeiros espectáculos, muitas vezes acompanhada da sua irmã. Com 16 anos recebeu uma bolsa, da Rainha D. Amélia, para frequentar o melhor Conservatório Europeu. Passou pelas salas mais conceituadas de Londres e de todo o mundo, mas nunca esqueceu a sua cidade natal. É neste percurso que encontra a diretora do Conservatório de Música do Porto e é também nesta saga que nasce a Orquestra Sinfónica do Conservatório. Guilhermina Suggia percorre Portugal de Norte a Sul e encanta todos com o seu talento. Na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, encontram-se  diversos documentos como a sua correspondência pessoal e oficial, fotografias…

Partiu com apenas 65 anos, mas deixou a sua marca, como melhor violoncelista portuguesa.

 

O Porto Escondido
9 Janeiro, 2019 / , , ,

As cidades constroem-se por cima das cidades. Esta é uma ideia que quer os arqueólogos, quer os arquitectos pressentem na realidade do seu trabalho cotidiano, que os condiciona, que os motiva e que está na raiz do futuro de qualquer cidade.

Desde que o Homem se sedentarizou, isto é, desde que os bandos de caçadores recolectores nómadas em busca dos melhores terrenos de caça deram origem ao assentamento permanente em aldeias cujos habitantes passaram a viver da agricultura e da criação de gado, que o tipo de habitação se modificou e passou a ter um carácter estável, com a adoção de materiais como o adobe, o tijolo e a pedra, para além da madeira, utilizada desde sempre.

Constatamos isso em povoados tão antigos como Çatal Hüyük (Anatólia, sul da Turquia) ou Jericó (Palestina), talvez as cidades mais antigas que se conhecem, construídas entre 8.000 e 7.000 a.C., e onde as construções se foram sucedendo, sendo as cidades ampliadas horizontalmente, mas também à custa dos derrubes das construções anteriores, aproveitando-se muitas vezes os seus alicerces para sobre eles se erguerem novas construções.

O Porto não terá sido diferente. Mas quem o sobrevoa, quem chega da outra margem ou quem percorre as suas ruas e observa o seu casario, não tem essa percepção, vê apenas aquilo que os seus olhos captam, as ruas, as casas, os prédios, as infra estruturas, não se lembrando que esta é apenas a nossa cidade, não a dos nossos avós e outros ancestrais.

Essas, as cidades deles, estão por vezes enterradas debaixo da nossa e, num momento em que o Porto vibra com a sua recuperação, sobretudo com a recuperação do seu Centro Histórico, os sinais dessas “cidades” que nos antecederam vêm ao de cima.

Talvez os vestígios mais antigos se encontrem no edifício da Rua D. Hugo, nº5, por detrás da Sé, onde foi possível sequenciar uma ocupação com vestígios desde o século VIII a.C., com casas de planta redonda. A que se sobrepõem casas já do período romano, de planta quadrangular.

Outro fantástico exemplo da forma como a cidade se foi construindo, é-nos fornecido pelas escavações arqueológicas da Casa do Infante, já numa zona baixa da cidade, em que a uma grande e luxuosa casa romana e tardo-romana (Séc. IV-VI) se sobrepõem as construções medievais, com a edificação dos armazéns do Rei, da Alfândega Régia e da Casa da Moeda, perdurando a sua ocupação e sucessivas ampliações ao longa da Idade Moderna e Contemporânea.

Mas o exemplo que vamos dar é igualmente representativo: numas obras dum edifício com frentes para a rua de S. Francisco e para a Rua Nova da Alfândega, onde esteve sedeada a antiga empresa de trânsitos A. J. Gonçalves de Moraes, em escavações aí realizadas apareceram vestígios da cidade oitocentista, mais concretamente o antigo quarteirão dos Banhos.

Aterrado quando das grandes transformações urbanísticas inerentes à construção do edifício da Alfândega Nova (1860-1870), construção da Rua Nova da Alfândega e da Rua Ferreira Borges, que implicou a destruição do Mosteiro de S. Domingos, o velho quarteirão dos Banhos ficou sepultado sob 5 metros de entulho.

As escavações mostraram uma outra faceta da cidade, uma zona ribeirinha e mal-afamada, que começava no areal já descrito por Ranulfo de Granville em 1147 e onde se situavam uns dos balneários da cidade, junto ao postigo dos Banhos e à Rua dos Banhos.

Fui uma dessas vielas, ainda com edifícios dos dois lados que foi posta a descoberto. Uma das casas, defronte da porta de entrada ladeada por janelas com grades de ferro, tinha um pátio lajeado.

Numa zona contígua, por debaixo cerca de um metro, o forte alicerce do que pode ter sido o edifício medieval dos banhos públicos. A escavação ficou por aí.

Mas o achado de materiais de construção romanos pode indiciar a presença de vestígios bem mais antigos…

 

Marcelo Mendes Pinto – Arqueólogo. Investigador CITCEM

Fenianos, pelo Porto.
15 Dezembro, 2018 / ,

O Clube Fenianos Portuenses nasceu a 25 de Março de 1904 primeiramente na Praça da Batalha passando depois em 1935 para a sua localização atual, na Av. dos Aliados bem ao lado da Câmara Municipal do Porto.

O clube foi reconhecido como comendador da ordem militar de cristo pelos serviços prestados nos seus 111 anos de existência e com a medalha de ouro da cidade, já que o seu lema é “Pelo Porto”.

Um conjunto de quatro dos fundadores por volta de 1903, cidadãos portuenses e futuros fenianos, procuraram obter os conhecimentos necessários para a organização de um corso carnavalesco com a exuberância do carioca e a beleza estética do de Veneza, tendo realizado uma viagem ao Brasil para esse efeito.

A partir desta colaboração nasce cerca de um ano depois o Clube Carnavalesco Fenianos Portuenses, mais tarde Clube Fenianos Portuenses. O objetivo principal era devolver à cidade um carnaval à altura da sua sensibilidade artística.

Como nota de curiosidade o soalho do salão nobre também traz consigo o “efeito brasil” já que todo ele é de pau-cetim de tom claro e macacaúba.

A história, património, memórias e intervenção cívica e cultural na cidade, dos Fenianos, entranhou-se na cidade e foi acarinhada pelas suas populações, eruditos, notáveis e anónimos, tornando-se tradição memorável do Porto. A sua centenária e nobre história, os seus livros de ouro e as lápides e quadros que revestem, interiormente, as suas vetustas paredes, registam a presença de algumas das mais importantes forças vivas da cidade, da indústria e do comércio, nomes de grande vulto de escritores, como Aquilino Ribeiro, Jorge de Sena, José Régio, dramaturgos como Pirandello, artistas plásticos, fotógrafos e pintores de renome como Guedes de Oliveira e o renomado pintor Amadeu de Sousa Cardoso, folcloristas e musicólogos como Armando Leça, palestras com o historiador da cidade Artur de Magalhães Basto e muitas, muitas outras individualidades de craveira nacional e internacional.

Nos dias de hoje continua a manter uma programação anual de actividades sócio-culturais permanentes, que vão da Música, Canto Coral e Instrumentos ao Ilusionismo, passando pelo Teatro, Dança, Bilhar, Ténis de Mesa e outros Jogos de Salão, não só para os associados mas para todos os que o visitam.

D. António Ferreira Gomes: procurar o bem sem temer a pena
15 Dezembro, 2018 / ,

Seria desonesto, e mesmo bizarro, negar a dimensão e o impacto político de uma figura como o antigo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes (1906 – 1989) identificado como um crítico do regime ditatorial do Estado Novo em Portugal que vigorou de 1933 até 25 de abril de 1974. Mas é fácil desfocar o olhar e diminuir a pessoa quando afunilamos a perspetiva a partir da qual a procuramos compreender. Entender que em Deus se pode encontrar a força libertadora, a confiança que dá aos gestos e às palavras a emancipação de todos os poderes que passam (sobretudo dos que se creem eternos), preveniria muitos enganos. É um engano reduzir D. António a um ator político e ler a partir daí os seus gestos e as suas intenções.

O Bispo do Porto foi um homem de Deus, movido pelo desejo de fidelidade à Igreja e à sua Doutrina Social. Não quis estar à frente do seu tempo. Foi por ser um homem do seu tempo que soube ler os dramas humanos, sociais e religiosos dos dias que vivia. Por isso, gerou tantas resistências. A carta que escreveu a Salazar, e acabou por contribuir para o seu exílio de dez anos (1959 – 1969), revela essa sua capacidade de compreender a realidade. Escritas a 13 de julho de 1958, aquelas linhas pretendiam preparar um encontro com Salazar. Tratava-se de um “pró-memória” através do qual D. António quis apresentar ao Presidente do Conselho os temas e as questões que gostaria de discutir no encontro que deveriam ter.

A carta era reveladora da sua sensibilidade à injustiça. Seguindo a Doutrina da Igreja, falava da necessidade dos frutos do trabalho serem equitativamente distribuídos, reconhecia o Direito à greve, denunciava misérias humanas e abria a possibilidade de se criarem partidos. Desejava para os católicos uma formação política e cívica que lhes possibilitasse uma participação consciente e livre na vida social. A carta acabaria por ser revelada publicamente. O Bispo do Porto negou sempre qualquer responsabilidade neste incidente.

O que movia D. António Ferreira Gomes não eram jogos infrutíferos ou a procura de protagonismos. A partir da leitura profunda e exigente da realidade, liberto de medos, porque fundado em Deus, desejou o bem e a justiça.

Esta raiz espiritual é muitas vezes difícil de captar. São poucos os que são capazes de compreender o ser humano a partir de convicções e motivações tão profundas. Mas apenas estas sustentam os homens livres. E só quem é livre encontra o desapego de procurar o bem sem temer a pena.

Museu dos Clérigos
14 Dezembro, 2018 / , ,

O percurso pela Casa da Irmandade (1754-1758), onde se localiza o Museu propicia um regresso ao passado, a experiência de percorrer espaços, que em tempos, foram privados e destinados ao quotidiano da Irmandade dos Clérigos.

Percorrendo a Casa do Despacho, a Sala do Cofre, o Cartório, e a antiga enfermaria, percebe-se que o Museu possui um acervo constituído por bens culturais de valor artístico considerável, do século XIII até ao século XX, que se espraia nas coleções de escultura, pintura, mobiliário e ourivesaria. Esses bens são mensageiros de um património histórico e cultual, cuja função perdida na passagem do tempo, deu lugar à sua musealização.

 

 

A enfermaria da Irmandade dos Clérigos que funcionou até finais do século XIX dedicada ao tratamento dos clérigos doentes, foi convertida num espaço expositivo, e acolhe atualmente a coleção Christus. Esta exposição, concebida a partir da doação de uma coleção por parte de um colecionador particular, desvela a paixão pelo colecionismo, e conta uma história complementada com objetos, outrora de devoção, considerados hoje legados culturais de interesse. São peças de escultura de vulto, pintura e ourivesaria que enaltecem o encontro da arte com a fé.

A exposição, distribuída por três salas – Núcleo da Paixão, Viagem das Formas e Imagens de Cristo – convida a uma viagem pelo tempo e pelo espaço, pela imagem e pela devoção.

O Museu da Irmandade dos Clérigos integra a Rede Portuguesa de Museus, desde 28 de agosto de 2018.