Cultura

Hospital Santo António -250 anos do hospital da cidade
6 Novembro, 2020 / , ,

Localizado no Centro Histórico do Porto, mais propriamente no Largo do Professor Abel Salazar, o Hospital de Santo António completou, em 2020, 250 anos desde que foi lançada a primeira pedra.

A história do Hospital de Santo António surge como saga de determinação, arrojo e altruísmo. Desde logo, a sua construção, que, independentemente da megalomania do projeto e do erro da localização, muito pantanoso, constituía necessidade premente da cidade em transformação.

No entanto, ficou demonstrado que, para edificarem e manterem o seu Hospital, os portuenses e a sua Misericórdia viram-se, muitas vezes, sozinhos e desapoiados pelo poder que, em momentos decisivos, tratava o Porto com a sobranceria de um centralismo que só nos meados do século XX começaria a olhar a cidade na justa medida das suas carências hospitalares.

A 15 de julho de 1770, os terrenos desocupados nos arredores do Largo davam lugar à construção do Hospital, mas a proposta apresentada pelo arquiteto inglês John Carr não chegou a executar-se na totalidade, tamanha era a sua dimensão, grandiosidade e custo. O início da construção deparou-se com uma dificuldade inesperada, o terreno que era muito húmido e pantanoso, dificultando a construção dos alicerces que iriam suportar o edifício. John Carr, que nunca veio ao Porto, projetou os interiores em tijolo. A opção pelo granito onerou e prolongou construção.

Para além dos problemas geográficos, os primeiros anos de construção foram marcados pela “turbulência” das invasões francesas, entre a década de 1770 e o início do século XIX, fazendo com que apenas fossem executados dois terços do projeto.

Mais à frente na História, e já após a inauguração da unidade, que aconteceu só em 1824, o país travou a guerra civil entre absolutistas e liberais e, depois, ainda, enfrentou a peste bubónica e a gripe espanhola de 1918.

É também em 1825 que fica associado ao hospital, a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, antepassado da Faculdade de Medicina do Porto que ali funcionou até ao final do ano de 1959, mudando-se para o recém-construído Hospital São João.

Passados 20 anos, em 1979, o hospital volta a receber alunos do 4º ano do curso de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, garantido a regência da maioria das unidades curriculares. Atualmente, a média de ingresso é a mais elevada entre os 7 mestrados integrados em Medicina das universidades portuguesas.

O edifício é o mais palladiano dos edifícios portugueses, e o maior, construído fora das ilhas britânicas, desenvolvendo-se em vários andares, de modo sóbrio, simples e simétrico, mas com volumes bem definidos animando a superfície.

Foi se convertendo no “hospital da cidade” e, desde 1910, é considerado Monumento Nacional. Hoje o Hospital de Santo António é a âncora do Centro Hospitalar Universitário do Porto, que incorpora também Centro de Genética Médica Jacinto de Magalhães e o Centro Materno-Infantil do Norte Albino Aroso, resultante da fusão da Maternidade Júlio Dinis e do Hospital de Crianças Maria Pia, bem como o património humano e cultural do Hospital de Doenças Infeciosas Joaquim Urbano. O CHUP dedica-se à assistência, ao ensino, aos internatos médicos, à formação, à inovação e à investigação clínica e científica. A área direta de referenciação vai da orla marítima cosmopolita às velhas ilhas do Porto, passando pela cidade, bairros operários e aldeias de Gondomar. Tem cerca de 4400 trabalhadores, de dezenas de profissões. Em cada dia que passa, tem cerca de 100 internamentos, 2900 consultas, 140 cirurgias programadas, 420 episódios de urgência, 300 episódios de hospital de dia e 10 partos. A cada semana, acolhe um novo ensaio clínico multicêntrico internacional e coloca quatro artigos científicos em base internacionais. A biblioteca tem numerosos recursos de pesquisa e obtenção de bibliografia. O Museu da Medicina e da Farmácia, está integrado na Rede Portuguesa de Museus, ligando o hospital à cidade e aos turistas.

 

 

Conhecer Siza Vieira através da sua obra
7 Outubro, 2020 / , ,

O mais conceituado arquiteto português assinou casas, museus, escolas e até uma estação de metro na área do Grande Porto.

A Casa de Chá/Restaurante da Boa Nova e a Piscina das Marés, ambas em Leça da Palmeira, são duas das obras mais famosas deste arquiteto. Datadas dos anos 60, numa fase ainda inicial da sua carreira, ambas estão situadas no concelho onde nasceu. Ainda em Matosinhos, o Monumento ao Poeta António Nobre, a Marginal de Leça da Palmeira ou a Piscina da Quinta da Conceição são outros exemplos de trabalhos do vencedor do prémio Pritzker.

No Porto existem também vários espaços públicos concebidos por Siza Vieira, como a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, o Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, obras concluídas nos anos 90. O traço de Siza Vieira existe também em habitações sociais, como o Bairro de São Vítor ou o Bairro da Bouça, em edifícios de escritórios e até no túmulo do poeta Eugénio de Andrade.

Entre as suas obras mais recentes e mais visíveis para o grande público estão, por exemplo, a renovação da Avenida dos Aliados ou a estação de metropolitano de São Bento, ambas situadas no centro da cidade.

Siza Vieira é também o autor da nova capela da Afurada, em Vila Nova de Gaia, que começará brevemente a ser construída. Marco de Canaveses, Gondomar ou Vila do Conde são igualmente cidades que possuem obras assinadas pelo arquiteto.

 

Porto cidade do Trabalho e da Liberdade
7 Outubro, 2020 / , , ,

Afirmar-se que o Porto é a cidade do trabalho – é uma imagem de marca, certamente adequada e justa, mas que não garante, por si só, que todos os do Porto amem o trabalho ou que não haja muitas outras terras que mereçam igual encómio.

Em todo o caso, tal fama traduz o reconhecimento externo de que as suas gentes são laboriosas e que ao longo da História se têm afirmado pelo trabalho, isto é, pelo negócio em contraposição ao ócio.

Todavia, o Porto não é apenas a cidade do trabalho.

A tradição portuguesa, corroborando opinião de eruditos oitocentistas e ocorrências históricas de’ projeção nacional, vai-lhe atribuindo o epíteto de terra da Liberdade, brasão mais antigo e mais nobre que o anterior e que, contrariamente a hipotéticas considerações sobre um paraíso perdido de fundo bíblico, não só não o desmente como até o complementa.

De facto, o trabalho sendo ou não consequência ou castigo da queda original, é condição de sucesso do homem comum.

Mas… trabalho sem liberdade é sempre escravidão.

Fonte: O Tripeiro 7ª série Ano XVI Número 6 e 7 Jun/Jul 1997

Roteiro dos escritores, pelo Porto ( Camilo Castelo Branco )
1 Outubro, 2020 / , ,

Apesar de ter nascido em Lisboa (1825) filho ilegítimo de um aristocrata com a sua criada, com 5 anos veio viver para o norte – Vila Real, órfão mãe. Com apenas 16 anos casou-se, e em 1843, 2 anos depois, foi pai. Nesse mesmo ano veio para o Porto viver sozinho, para a Rua Escura, no histórico e pitoresco bairro da sé, para estudar medicina. Mais tarde viveu no hotel Paris, na Rua da Fábrica.

Era um homem elegante, foi um reputado jornalística e escritor. Em 1850, matriculou-se no Seminário do Porto, onde estudou teologia e fundou 2 jornais de caracter religioso.

A vida de Camilo pelo Porto foi intensa, polémica e boémia e causou alguns escândalos de natureza amorosa. Ficou celebre pela paixão por Ana Plácido e consequente prisão na Cadeia da Relação. Destes acontecimentos nasceu a sua obra mais célebre “O amor de perdição” que foi imortalizado por uma estátua dos dois, que pode ser vista junto à cadeia onde ambos estiveram presos.

Em 1868, Camilo voltou ao Porto para viver na rua de Santa Catarina e rua de S. Lázaro, depois de casar com Ana Plácido e com ela fundou e dirigiu a Gazeta Literária da cidade.

Os anos 80 foram muito turbulentos pois já via muito mal e mantinha relações polémicas com variados senhores da sociedade. Foi várias vezes ameaçado fisicamente e comprou um revolver para se defender. Ironicamente 7 anos depois viria a usa-lo para se suicidar após perceber que a sua cegueira não tinha cura.

Camilo foi sepultado no cemitério da Lapa.

Até hoje, encontram-se na Ordem da Lapa manuscritos da correspondência entre Camilo, Ana Plácido e Freitas Fortuna e numerosos objectos camilianos, como o revólver com que se suicidou, uma caixa de prata para rapé, com a última anotação que utilizou, a luneta, a pena e a lapiseira-pena que lhe serviram nos últimos tempos, um livro de Droz que Camilo começou a traduzir na Cadeia da Relação, um búzio que serviu a Camilo de pisa-papéis e o seu tinteiro predilecto.

A Ternura
22 Setembro, 2020 / ,

Obra do escultor José Fernandes de Sousa Caldas

A escultura encontra-se nos Jardins do Palácio
de Cristal

Roteiro dos escritores, pelo Porto ( Júlio Dinis )
21 Setembro, 2020 / , ,

Júlio Dinis (1839-1871), nasceu e foi baptizado no Porto, na freguesia de S.Nicolau.

Estudou em Miragaia onde escreveu os primeiros textos literários, e estudou Medicina na Universidade do Porto. Em 1852 e 1853, residiu na aldeia de Noêda, freguesia de Campanhã. Em 1874 o escritor foi habitar com a família do seu primo, para a Rua de Costa Cabral, na freguesia de Paranhos, onde viria a falecer de tuberculose – tinha 32 anos.

Quando frequentava o primeiro ano da Academia Politécnica, travou conhecimento e manteve uma íntima amizade com o poeta Soares de Passos, e desta circunstância intensificou o amor às belas letras. Participou ainda em núcleos de teatro e colaborou com o Jornal do Porto.

Nos seus livros “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, “A Morgadinha dos Canaviais” e “Uma Família Inglesa” podem encontrar-se muitas referências à cidade onde nasceu, viveu e morreu.

Um conjunto escultórico, constituído por uma figura feminina que coloca uma coroa de flores junto do busto do poeta, em baixo-relevo. Foi sepultado no cemitério de Cedofeita, juntamente com o seu irmão.

Ao longo dos anos, 71 localidades em Portugal deram o nome de Julio Dinis a uma ou mais artérias.

A cidade do Porto mostra a importância deste escritor na sua história, dando o seu nome a uma Rua, uma Maternidade e um cinema.

Ricardo Jorge – Precursor do Sistema Nacional de Saúde
21 Setembro, 2020 / , ,

Ricardo de Almeida Jorge nasceu no Porto, em 9 de maio de 1858.

Frequentou a Escola Médico-Cirúrgica do Porto entre 1874 e 1879, finalizando o curso de Medicina aos 21 anos, com uma dissertação “O nervosismo no Passado” Iniciando a sua vida profissional na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Porto. Em 1880, leciona na mesma Faculdade as cadeiras de Anatomia, Histologia e Fisiologia Experimental e concorre ao cargo de professor substituto no Departamento de Cirurgia da mesma escola. Elabora um trabalho sobre Localizações Motrizes no Cérebro, numa época em que a neurologia dava os primeiros passos. Não protelando a pratica clínica, desloca-se várias vezes ao estrangeiro, assistindo às lições do neurologista Charcot.

Entretanto de regresso ao Porto, publica vários artigos em revistas científicas e monta o primeiro laboratório de microscopia e fisiologia do Porto.
Sendo a neurologia seu primeiro interesse, deixou uma obra monumental, abrangendo assuntos diversos, incidindo a maior parte do seu legado sobre as especialidades da Higiene e Epidemiologia. O seu estilo vai além de um homem de ciência, como podemos observar num comentário de Camilo Castelo Branco de quem era amigo “O estilo de Ricardo Jorge desatrema de tudo que se conhece em oratória parlamentar, em dialética académica, em eloquência cívica dos clubes e até em oratória de púlpito…”, na obra Serões de S.Miguel de Seide.

Os estudos desenvolvidos sobre hidroterapia e o interesse de Ricardo Jorge pelo termalismo e hidrologia (realização de algumas experiências sobre os efeitos dos fluoretos alcalinos e nas águas termais) está na sequência, em 1888, do contrato de exploração por cinquenta anos, das Caldas do Gerês, onde exerceu o cargo de director clínico entre 1889 e 1892. Não se revelando vocacionado a actividade empresarial a Companhia das Caldas do Gerês, abriu falência em 1893.

Vários debates sobre a instalação dos cemitérios no Porto, induziram Ricardo Jorge a dar uma série de conferências (1884), numa atitude contestatária ao que as autoridades de saúde pensavam relativamente à higiene social, contribuindo para um grande debate. Foi um momento fundamental no processo evolutivo da saúde pública em Portugal.

A convite da Câmara Municipal do Porto, fez parte de um estudo sobre as condições sanitárias da cidade, elaborando um relatório publicado em 1988. Foi nomeado médico municipal do Porto em 1891, recebendo outro convite, em 1892, para administrar os Serviços Municipais de Saúde e Higiene do Porto e o Laboratório Municipal de Bacteriologia.

Em 1895 é nomeado Professor Titular da Cadeira de Higiene e Medicina Legal da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Os estudos de Ricardo Jorge, Arantes Pereira e do Conde de Samodães, ajudaram a influenciar a Rainha D. Amélia na criação da Assistência Nacional aos Tuberculosos e à construção de sanatórios para os doentes.

Em 1899 o Porto é atingido por um surto de peste bubónica (em teoria extinta no Ocidente desde 1700). Ricardo Jorge faz o diagnóstico relatando às autoridades competentes o eclodir da epidemia. Foi de imediato solicitada ajuda internacional sendo encomendados ao Instituto Pasteur de Paris duzentos tubos do soro “Yersin”. Ainda que várias pessoas tenham sido vacinadas pelo Dr. Calmette, entre as quais os próprios filhos de Ricardo Jorge.
Conhecendo este muito bem as condições de desenvolvimento da peste pôs em prática rigorosas medidas sanitárias e de eliminação dos agentes transmissores da doença tal como ratos e pulgas ( por cada rato grande entregue numa esquadra de polícia eram pagos 20 réis, por cada pequeno 10), além de medidas preventivas para a erradicação da praga (isolamento de pacientes e a desinfecção de casas onde eram encontrados casos patológicos)
O Conselho de Saúde decreta um cordão sanitário em torno da cidade, defendido pelo exército, no entanto, os prejuízos económicos advindos do isolamento e a instigação por parte de alguns grupos políticos originaram uma revolta da população, eclodindo alguns episódios violentos.

Ainda que protegido pelas autoridades e contando com a solidariedade dos médicos do Porto Ricardo Jorge parte para Lisboa onde é nomeado Inspector-Geral dos Serviços Sanitários do Reino, lente de Higiene na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e membro do Conselho Superior de Higiene e Saúde.

Em 1899 cria a Direcção-Geral de Saúde e Beneficência Pública e o Instituto Central de Higiene, mais tarde Instituto Superior de Higiene (que ostenta hoje o seu nome).

Podemos dizer que Ricardo Jorge nos finais do século XIX dá origem a uma profunda reforma na saúde pública em Portugal, em todas as vertentes que lhe estão ao alcance (académica, legislativa e de investigação)

A instabilidade politica da I República não permitiu desenvolvimento visionado por Ricardo Jorge e só durante o Estado Novo com Marcelo Caetano como Presidente do Conselho de Ministros se dá um novo impulso às questões da saúde, sendo exemplo de peso o modelo sanitário apresentado por Baltazar Rebelo de Sousa e Gonçalves Ferreira, fulcrais na criação do futuro Sistema Nacional de Saúde.

Uma curiosidade interessante foi o facto de ter proibido a coca-cola em Portugal (em 1927 enquanto Diretor-geral da Saúde.

Só em 1977 é desbloqueada essa proibição.
Foi activo até quase ao final da sua vida, intervindo e participando numa reunião do Escritório Internacional de Higiene três meses antes de morrer em Lisboa, em 29 de julho de 1939.

O dia em que o Rei visitou o Porto
21 Setembro, 2020 / , , ,

Em novembro e dezembro de 1908 D. Manuel II, que viria a ser o último rei de Portugal, fez uma longa viagem ao norte do país, tendo passado vários dias no Porto.

Num desses dias, e depois da mãe, a Rainha D. Amélia, ter feito compras numa grande loja da cidade, o povo reuniu-se no Campo da Regeneração (atual Praça da República), para uma parada militar. Dizem os jornais da época que muitas pessoas subiram aos telhados para poderem assistir e que nas ruas, os automóveis, trens e elétricos que se dirigiam ao local tiveram de voltar para trás.

O desfile percorreu várias ruas da Baixa e, em plena Rua de Santa Catarina, o cortejo é recebido com uma grande chuva de flores. No final do dia, tem lugar um jantar de gala no Palácio dos Carrancas. Dona Amélia teve também um dia preenchido, tendo visitado o atelier do escultor Teixeira Lopes.

Depois de ter percorrido diversas localidades do norte, D. Manuel II regressaria ao Porto, tendo participado num sarau no Ateneu Comercial do Porto. Em mais uma homenagem ao rei, os banheiros da Praia do Ourigo deram o nome do monarca à praia. Em outubro de 1910 deu-se a implantação da República e a designação ficou para sempre esquecida.

Fonte: O Tripeiro 7ª série Ano XVI Número 1 e 2 Fevereiro 1997

 

A Estátua que tem o nome da cidade
17 Setembro, 2020 / ,

Na centralíssima Praça da liberdade, mais precisamente na confluência com a Rua Dr. Artur de Magalhães Basto junto ao Edifício do Banco de Portugal, está instalada uma estátua, hoje em dia vista desenhada e fotografada não só pelos milhares de pessoas que nos visitam, mas igualmente por tantos habitantes locais nas suas passagens rotineiras, e que representa um guerreiro.

Ela tem uma série de particularidades que só por si despertam algum interesse.

Desde logo o facto de ser possivelmente a que mais ‘passeou’ pela cidade. Está neste momento e desde 2013 no local mais próximo do ponto para onde foi idealizada, que foi o alto do frontão triangular da fachada do palacete que existia no topo norte da actual Praça da Liberdade onde esteve instalada durante cerca de cem anos a Câmara Municipal até à sua demolição em 1916 para a abertura da então Avenida das Nações Aliadas, actual Avenida dos Aliados. Nessa altura foi apeada e colocada junto ao Paço Episcopal e mais tarde ao lado da Muralha Medieval. Mais tarde voltou a ser removida, desta vez para os Jardins do Palácio de Cristal até que o Arquitecto Fernando Távora, na obra de requalificação da Casa dos 24, a instalou no Terreiro da Sé até ser finalmente depositada no local onde hoje se encontra.

Outro aspecto curioso é que sabemos que foi idealizada e por isso muitas vezes atribuída ao Escultor João de Sousa Alão mas não por si feita. Ele encomendou-a ao Mestre Pedreiro João Silva que foi na realidade o seu autor.

A ideia inicial era adornar aquele palacete que até então tinha sido uma residência particular, com símbolos que o identificassem com as novas funções de Sede dos Paços do Concelho.
E assim foi concebido este guerreiro com as suas armas e um elmo encimado por um dragão, bem como um escudo onde para além da inscrição Portus Cale surgem as Armas da própria Cidade. Por todos estes motivos, esta obra recebeu o nome da própria cidade que simboliza: “Porto”.

Uma última referência tem a ver com o os custos e contrato de pagamento, pois de acordo com os documentos das contas municipais desse ano de 1818, deveria ser liquidada em 3 vezes a quantia de… 343$20. Se não contarmos com as obvias actualizações, este valor corresponde a cerca de € 1,60…

Roteiro dos escritores, pelo Porto ( Almeida Garret )
17 Setembro, 2020 / ,

O Turismo Literário oferece capital cultural pois dá aos leitores possibilidade de percorrer e descobrir lugares relatados, de inspiração, e lugares que marcaram as vidas de escritores e dos seus bens. Da dificuldade em descobrir esses lugares se denota que muito trabalho há a fazer na preservação e na divulgação deste património. Algumas das casas mencionadas têm uma placa informativa, mas não são consideradas património cultural, e nem há um levantamento, de todas as casas que existem. Esta modalidade turística estabelece relações fortes entre os turistas e os seus destinos, relações criativas, afectivas e sociais. O Porto pode assim destacar-se e diferenciar-se como destino rico em património cultural, com história e escritores de renome.

ALMEIDA GARRET

Nasceu em 1799 no Porto, na Rua Dr. Barbosa de Castro próxima dos Jardins da Cordoaria, na casa n.º 37-41, e aí viveu até aos cinco anos, deslocando-se depois para Vila Nova de Gaia.
A meio do primeiro andar da casa, de características setecentistas, num medalhão oval em gesso, colocado pela câmara municipal em 1864, uma inscrição homenageia a memória do autor de “Viagens na Minha Terra”.

 

Há marcas do escritor por toda a cidade :

– Igreja de Santo Ildefonso, onde Garrett foi baptizado em 1799;

– edifício do Colégio de S. Lourenço/Igreja dos Grilos na Sé, e regimento militar improvisado, onde se refugiou durante o cerco do Porto, em 1832, e onde deu início ao romance “O Arco de Sant’ Ana: crónica portuense”;

– Praça Almeida Garret junto à estação de S. Bento;

– Ele foi um dos responsáveis pela introdução do coração de D.Pedro no brasão da cidade do Porto;

– sepultura em sua homenagem no cemitério da Lapa, embora os seus restos mortais se encontram no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa;

– desde 1954, no 1.º centenário da sua morte, uma estátua sua em bronze, tem lugar de destaque em frente à câmara municipal do porto,

– em 2001, quando Porto foi Capital Europeia da Cultura, a Biblioteca Municipal nos jardins do Palácio de Cristal foi baptizada de Almeida Garret.

É descrito como um dandy petulante e vaidoso.